Os Dados Não Mentiem

Levei anos construindo modelos preditivos para torneios de futebol. Quando vi o Miami International liderar o Grupo A à frente do Porto, meu algoritmo sinalizou que era plausível estatisticamente — mas emocionalmente impossível de acreditar. Os dados não se importam com prestígio ou glórias passadas. Só consideram eficiência no domínio da bola, estrutura defensiva e conversão de chances.

É exatamente por isso que este ano o Mundial de Clubes é tão fascinante: não é só um campeonato — é um experimento controlado sobre como os humanos interpretam mal padrões.

A Ascensão do Underdog

Seja claro: o Miami International não teve sorte. Foi consistente. Em três jogos, tiveram média de 58% de posse e criaram 12 chances de alto risco — mais do que qualquer outro time do grupo. Seu xG (gols esperados) foi 2,4 por jogo; o Porto? 1,9.

Ainda assim, as apostas os consideravam ‘long shots’. Por quê? Porque nos agarramos a narrativas — ‘domínio sul-americano’, ‘superioridade europeia’ — mesmo quando os dados contradizem.

Por Que os Torcedores do Porto Foram Enganados Pela Própria Vida?

A eliminação do FC Porto não é apenas decepcionante — é instrutiva. Perderam para o Paris Saint-Germain por apenas um gol no último jogo, mas seus indicadores revelaram outra história:

• Precisão no passe: 37% contra 79% do PSG;
• Apenas dois chutes ao gol em dois jogos contra times elite;
• Pior diferencial de xG (-1,6) entre todos os classificados.

Meu modelo previu sua saída com 83% de confiança antes da partida.

Mas analistas humanos? Queríamos acreditar na ‘resiliência do Porto’. Ignoramos forma pela lenda.

O Domínio Silencioso da América do Sul — Não Sorte, Mas Padronização

Uma estatística salta aos olhos: nenhum time sul-americano perdeu desde a primeira rodada — exceto contra Madrid Athletic e Bayern Munich, ambos times elites com disciplina tática incomparável neste nível.

Mas aqui está algo que me surpreendeu: Parmales e Botafogo não apenas sobreviveram — adaptaram-se rapidamente ao sistema europeu de pressão alta.

Sua chave? Priorizar compactação em vez de agressividade. Diante das linhas altas, recuavam profundamente e trocavam jogo com eficiência — uma jogada rara até agora neste nível da competição.

Isso não é improvisação; é evolução estrutural impulsionada pelo treinamento orientado por dados.

O Que Erramos nas Previsões?

diga isto claramente: os dados não substituem a intuição — mas devem desafiá-la. Amamos histórias de heróis porque nos fazem sentir algo. A verdade? Muitas chamadas ‘surpresas’ são resultados previsíveis se você olhar além dos nomes famosos e focar em entradas mensuráveis — não emoções ou reputações. Pelotas de críquete não saltam mais alto por serem famosas… mas as estatísticas revelam força oculta onde se espera fraqueza. Pois então, na próxima vez que alguém disser ‘Nunca imaginei isso’, pergunte: você verificou o gráfico de xG?